Reforma Administrativa: Câmara inicia debates oficiais em comissão geral com foco em modernização do Estado
Câmara dos Deputados abre debates sobre a Reforma Administrativa
A Câmara dos Deputados deu início, nesta quarta-feira (3),
aos debates oficiais sobre a Reforma Administrativa em comissão geral realizada
no Plenário.
O encontro reuniu parlamentares, representantes do governo
federal, especialistas em gestão pública, acadêmicos e entidades sindicais,
marcando a primeira etapa de uma discussão considerada prioritária pela
presidência da Casa.
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta
(Republicanos-PB), abriu os trabalhos afirmando que a proposta é um “pacto
republicano pelo futuro do país”.
Segundo ele, a modernização do Estado deve garantir
“agilidade, eficiência e transparência” na prestação dos serviços públicos.
Motta destacou que a população brasileira espera avanços
significativos. “Estou confiante no sucesso do nosso empenho coletivo e na
possibilidade de entregarmos ao Brasil uma legislação que dê ao contribuinte
confiança em relação ao emprego dos recursos arrecadados por meio de impostos;
que dê ao usuário de escolas e hospitais públicos a certeza de que o Estado
disporá de meios para assegurar continuidade e boa qualidade nos serviços; que
seja eficaz no combate à corrupção e valorize os servidores dedicados e
eficientes”, afirmou.
O parlamentar citou dados de levantamento recente do
Datafolha: 72% dos brasileiros acreditam que a profissionalização do serviço
público contribui para o combate à corrupção e 83% rejeitam privilégios, como
os chamados supersalários.
Grupo de Trabalho e propostas em discussão
Os debates foram conduzidos pelo Grupo de Trabalho (GT)
coordenado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), formado por 18
parlamentares.
O colegiado já realizou 17 audiências públicas e recebeu
mais de 200 contribuições de entidades representativas.
Pedro Paulo antecipou alguns pontos centrais da proposta que
deve ser apresentada nas próximas semanas, entre eles:
- criação de uma tabela única de remuneração, abrangendo servidores de todos os Poderes, com prazo de 10 anos para adaptação, nos moldes de países como Portugal e Estados Unidos;
- avaliação
de desempenho como critério de progressão;
- bônus
por resultados associados a metas;
- revisão
de vínculos empregatícios;
- regras
para contratos temporários e regulamentação do teletrabalho.
“O objetivo não é reduzir ou ampliar o tamanho do Estado,
mas aprimorá-lo e adaptá-lo às necessidades de cada governo”, afirmou o
relator.
(Imagem: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados)
Governo federal defende modernização já em andamento
Representando o governo, o secretário extraordinário para a
Transformação do Estado do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços
Públicos (MGI), Francisco Gaetani, ressaltou que a modernização
administrativa já está em curso.
Segundo ele, desde janeiro de 2023 o governo implementou 38
medidas, incluindo a retomada dos concursos públicos, a recomposição
salarial dos servidores, a criação do MGI, a transformação digital e novos
sistemas de avaliação de desempenho.
“A reforma administrativa é parte de um processo de
transformação permanente do Estado. Estamos revisando marcos legislativos
históricos, como o Decreto-Lei nº 200/67, e avançando em temas como direito de
greve e digitalização”, destacou.
Gaetani também alertou para os riscos de novos encargos aos
estados e municípios sem contrapartida financeira.
Supersalários e combate a privilégios
Um dos temas mais destacados no debate foi o combate aos
supersalários, remunerações que ultrapassam o teto constitucional de R$
46.366,19.
Para o consultor Humberto Falcão, trata-se de uma distorção
que gera forte indignação social.
A diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, Jessika
Moreira, defendeu que a reforma deve enfrentar privilégios para restaurar a
confiança da sociedade.
O professor João Bachur classificou os supersalários
como forma de concentração de renda, com impacto de mais de R$ 10 bilhões
anuais.
“O combate a privilégios é condição indispensável para
restaurar a confiança da população no serviço público”, reforçou Gaetani.
Sindicatos pedem diálogo e tempo para análise
Representando os servidores, o presidente do Sindilegis,
Alison Souza, afirmou que o serviço público deve ser valorizado como
pilar da cidadania e da democracia.
Ele defendeu a criação de uma comissão especial para
discutir o texto da reforma em detalhe.
“Serviço público não é negócio. Serviço público é cidadania,
serviço público é democracia. Queremos contribuir com esse objetivo”, declarou.
O dirigente ponderou que o debate precisa ser amplo e
democrático, com atenção a cada ponto da proposta.
O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras
Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei Marques, criticou a falta de diálogo com
os servidores federais.
Ele afirmou que os mais de 12 milhões de servidores
da União não tiveram acesso ao texto que está sendo discutido e só recebem as
informações por meio da imprensa.
Estabilidade dos servidores e impacto nos concursos
A estabilidade do servidor público foi defendida por
diversos participantes como elemento essencial para a democracia e para a
continuidade administrativa.
Pedro Paulo e Hugo Motta reiteraram que os direitos
adquiridos serão preservados e que não haverá perseguição a servidores. “Nós
não acabaremos com a estabilidade do servidor público, porque a estabilidade
não é uma garantia do servidor, é uma garantia do Estado brasileiro”, reforçou
Pedro Paulo.
No campo dos concursos públicos, a proposta em
discussão traz mudanças estruturais:
- entrada
direta em níveis superiores para candidatos com experiência relevante;
- teto
para o salário inicial, limitado a 50% do máximo da carreira;
- mínimo
de 20 níveis hierárquicos em todas as carreiras, com progressão
baseada em desempenho;
- criação
de um Banco Nacional de Temporários, permitindo contratações
rápidas por municípios menores, com contratos de até cinco anos.
A proposta também prevê a realização de um Concurso
Nacional Unificado (CNU) para cargos estaduais e municipais, ampliando o
modelo já aplicado pelo governo federal.
Planejamento estratégico e transformação digital
Outro ponto destacado é a inclusão do planejamento
estratégico na Constituição. Cada novo governo terá até 180 dias para
apresentar plano com metas e indicadores.
A transformação digital também foi apontada como eixo
central. O deputado Pedro Paulo defendeu que todos os atos públicos sejam
“digitais e rastreáveis”. Já Gaetani citou ações recentes do MGI, como a
expansão da Carteira de Identidade Nacional e a infraestrutura nacional de dados.
Perspectivas e próximos passos
A expectativa é que a proposta chegue ao Congresso ainda em
setembro, dividida em três etapas: Proposta de Emenda Constitucional (PEC),
projetos de lei complementar e projetos de lei ordinária.
O presidente Hugo Motta reforçou que o processo será
conduzido de forma transparente e com ampla participação. “O compromisso é
produzir resultados concretos para a sociedade e entregar um Estado mais
eficiente e próximo da realidade dos cidadãos”, concluiu.
➡️ Compartilhe essa notícia no WhatsApp
➡️ Compartilhe essa notícia no Telegram
VEJA OS DEPOIMENTOS DE ALGUNS DOS NOSSOS ALUNOS APROVADOS | CLIQUE E ASSISTA!